Três quartos de um amor – Colectânea de cartas de amor – Volume III

Tu,

Por fim confiei em alguém com tudo aquilo que era e acabou por ser mais um alguém, mais um alguém como todos os alguéns que havia conhecido até ao momento. Lamento ter confiado. Lamento ter acreditado. Lamento que tenhas sido a pessoa que me ajudou a encontrar-me porque lamento que tenhas sido a pessoa por quem me podia perder. E perdi - lamento. Mas acima de tudo, lamento não ter sido a pessoa. A tua pessoa. A pessoa que seria tua e de quem serias mesmo sabendo os dois que as pessoas não pertencem umas às outras. Lamento ter-te amado com tudo aquilo que sou e que me tenhas deixado do lado da estrada, abandonada, como se fosse alguém em quem nunca confiaste. E ainda e amo. Fogo, ainda te amo com tudo aquilo que era, que sou e que serei. Sinto-te em tudo aquilo em que me achei. E isto devia ser uma carta para mim, devia amar-me mais que a ti. Mas não. Desejo que sejas feliz - feliz a metades, feliz sem mim, feliz apenas por ti ou talvez com alguém que te faça mais feliz do que eu alguma vez consegui. Feliz longe, bem longe de mim, para que não possa sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, reparar que falam no teu nome ou escutar alguém a contar-me o que tens feito enquanto eu uso e abuso de todas as minhas forças para manter um sorriso e as lágrimas nos olhos. Não, não podem cair porque eu estou bem. Não, sê feliz, mas sê feliz longe de mim.

Porque o amor é um Universo e voaste para longe, mas eu fiquei aqui, sem asas para me levar para junto da pessoa que em ti vi.

Porque o amor é um Universo,

Inês Cardoso Esteves 

Neste poço de desejos, podemos atirar moedas cunhadas com os dedos que desatam a voz e o amor. Depois, os dias prosseguem. Não interessa se encostados aos rostos que se perdem ou que se encontram. Porque entretanto, as sombras frágeis já foram sacudidas para um espelho de água, onde apenas se reflecte o olhar e o toque da memória.

- Ricardo Novais